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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

RAZÕES DO CANCIONEIRO DEDICADO AO CLUBE NEVOSA




Trata-se de trazer a terreiro alguns temas respeitantes às muitas situações que emergem de uma vivência comum. Uma coexistência há mais de uma década, no Clube Nevosa, vem-me dando o privilégio de assomar pelos verdeados trilhos pedonais, os quais, no Gerês, se estendem pelas franjadas rochas, talhadas pela fada erosiva e , em que os penhascos, como que num soberbo desafio, se encimam até à confinação das cumeadas, dificultando a acção dos ofegantes montanhistas, pela ocasião, já, ansiosos por aceder a essas autênticas varandas. « Com efeito, insinuam-se,tais cumeadas como varandas ou janelas que aos nossos olhos alindam, com toda a prodigalidade, os abismos onde se espreitam floras multiformes e a policromia salpicada dos vales que, por vezes, nos dão a miragem de serem tocados por um incomensurável abraço da linha do horizonte Mas, muito e muito mais se desfruta do alto dessas «varandas»; descortinam-se caudais de rios e riachos: As águas das albufeiras que se assemelham a mantos emoldurados pelos verdes que as marginam e lhe dão recortes que parecem ter sido aprimorados pela mão de um pintor que se esmerou na aguarela. Aqui, e ali, mais ao perto ou ao longe, nossos olhos,ciosos, enxergam e acompanham os desenhos morfológicos das vertentes, onde águas escorrem e formam um cristalino ziguezagueante sobre essas colinas vestidas de um verde, para, por fim, sem qualquer parcimónia, se precipitarem num abismo que parece aguardá-las para as encaminhar, em mágicos contornos, na sua fascinante queda nos leitos matizados das lagoas.Mas, conforme o próprio título o inculca, não foi, nem está no meu propósito, por esta ocasião, estar a descrever algo sobre a beleza ímpar do Gerês. Se o preâmbulo, pelo entusiasmo esfusiante que me inspira o Gerês, fez com que me arrastasse em considerações dessa índole, o rigor do título, (CANCIONEIRO DEDICADO AO GRUPO DO CLUBE NEVOSA), foi-me sugerido por uma espécie de colectânea enformada por aquilo a que, veleidademente, chamo de diversos versos ou quadras que, por ocasiões espaçadas no tempo, fui fazendo para oferecer e declamar aos colegas que elencam o clube Nevosa.Como será óbvio, os conteúdos dos versos não podem alinhar com o interesse de terceiros em lê-los, visto que vertem e visam caricaturar situações intrísecas; inerentes a vivências do grupo e, que foram surgindo, quer no percurso dos trilhos, quer na hora de estendermos as esteiras: É que,uma vez atingidos os cumes, objectivos a que previamente nos propomos, as mochilas abrem-se para dar lugar às refeições que, mesmo aligeiradas, honrámos com o néctar dos vinhos. Então, sobre o controle do relógio, pois que não podemos deixar de pensar no regresso, nesses picos, «varandas paradisíacas», damos férias às nossas pernas e, concomitantemente, também, trabalho ao nosso verbalismo; surgem as anedotas entrecortadas pelos risos ou majoradas com um redundante humor dos interlocutores.Em resumo, estas situações, similarmente repetidas no decurso de centenas de Sábados, geram, como será pressuposto, um interagir cunhado de uma grande e salutar amizade. Também, e no contexto vindo de verter, tenho que referir três Sábados que, por si só, se constituem como que um «altar» das regalias do meu espírito: São derivações tradicionais dos exercícios pelas montanhas para os exercícios gastronómicos; o Nevosa faz-se representar, na sua máxima força, nas festas do Alvarinho em Melgaço,aí, os petiscos tradicionais com um corolário da visita à adega da Touquinheira, geram sublimadas honras ao Deus Baco. Por sua vez, o clube faz as festas do Natal no monte; a ementa é confeccionada no local, em regra, junto às cabanas dos pastores, pessoas que nos franqueiam as suas portas e nos deixam utensilagem ao nosso dispor caso haja necessidade das mesma. Mas, o ponto alto da festa do Clube é o convivio anual num sítio que parece ter sido escolhido e preparado pelos «Deuses».Uma pradaria situada nas fraldas da Louriça, toda pintada de verde dados os seus extensos tabuleiros de relva macia: Soerguendo-se o olhar, um tecto da mesma cor, isto porque as copas das vetustas árvores parecem encostar-se umas às outras como que não querendo perturbar o beijo das suas matizadas sombras. A par deste cenário, um esmero da natureza, está a mão do homem, dos pastores. Pessoas simples e de porfiado trabalho, para quem a empatia não se fez, já deve advir da nascença, tal a boa-fé e entusiasmo que põem nas conversas com os passantes ocasionais. Retomando,agora, o tema, foi essa mão dos ditos pastores quem colocou no local algumas mesas e respectivos bancos, bem como uma lareira a céu aberto com um pequeno fontanário acoplado. Escusado será dizer-se que a « a malta » exortou com tais comodidades: Num sítio tão ermo quanto belo, aquelas obras granitadas são autênticas mordomias e, por isso, aquele espaço vem sendo, sem quaisquer hesitações, «o salão de festas do nosso convívio anual.» É, ali, que toda a espécie de comidas e gulodices se vão espalhando sobre as mesas.Os cozinheiros, os habituais, não só pelas suas apetências como pelo carinho que põem nas suas tarefas, vão confeccionando os alimentos previamente combinados, enquanto os pratos se vão agitando, numa roda-viva, entre a rudimentar cozinha e as mesas. As garrafas, com o saboroso nectar esvaziam-se e perfilam-se pelo chão a um ritmo que até o Baco, por cima das copas das árvores, parece estar a aplaudir. Como este convívio integra acampamento, pois é o único em que se pernoita no local, de manhã, uns, ao despontar do sol,outros, um pouco mais tarde, oferecem um apontamento típico,os rostos de pessoas que se esgueiram das tendas a bocejar ou a esfregar os olhos. É que a festa adentra-se na noite e os menos afoitos vão para as tendas mais cedo, mas não conseguem dormir com os risos e as canções dos cantores desatinados.No quadro vindo de referir estão as tintas que desenham todo um ambiente favorável à criação de uma forte, solidária e carinhosa amizade entre os membros do grupo .Todos temos a mesma cumplicidade; as nossas mentes têm erigido, ao longo de tantos anos,um património; -como que um guarda-jóias da pérola do fascínio que é a Peneda Gerês. O meu entusiasmo e motivação para imaginar os motes para glosar, com carinho e em verso, as versáteis situações florescentes no seio do tão amistoso grupo do Clube Nevosa, estão e, agora, repetindo-me, na reciprocidade de uma efusiva amizade..É POIS, por uma questão de método mas, não só, que trago ao meu blogue o registo das minhas tão modestas quadras, para as quais engendrei e, assim, vou compaginar com o título de Cancioneiro.

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